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Zygmunt Bauman e a Modernidade Líquida

Na noite deste domingo, a TV Cultura exibiu uma edição especial do Café Filosófico a partir de uma entrevista concedida pelo sociólogo Zygmunt Bauman no ano passado ao projeto Fronteiras do Pensamento. Foram abordadas diversas temáticas, entre as quais destaco duas. O intelectual chama a atenção para o fato de que a maior aproximação contemporânea da Ágora são os talk shows, caracterizados pelas discussões de problemas individuais e pela exposição da privacidade. Retoma e atualiza a análise de Sigmund Freud (1856-1939) quanto ao mal-estar na civilização. Bauman compartilha da posição defendida por Freud de que toda civilização é uma troca de dois valores: segurança e liberdade. Todavia, se à época da publicação de O mal-estar na civilização (1920) o problema residia na perda de liberdade em prol da segurança, na contemporaneidade o problema é de ordem inversa: cedemos segurança em favor da liberdade. Acrescenta o intelectual que segurança e liberdade são os dois valores indispensáveis a uma vida satisfatória, recompensadora e relativamente feliz, porém é impossível encontrar a fórmula ideal para conciliá-los, ainda que jamais deixemos de buscá-la. Ao final da entrevista, afirma que estamos cotidianamente diante de uma gama de opções proporcionadas pelo destino e que as escolhas são feitas segundo o caráter de cada um, razão pela qual não há segredo para a felicidade. Para cada ser humano há uma receita especial para a felicidade. Nas palavras de Bauman, “para cada ser humano há um mundo perfeito feito especialmente para ele ou para ela”.

A entrevista está disponível logo abaixo.

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Dissencialistas Indica: a matéria Reações às cotas subestimam o racismo, assinada por Matheus Pichonelli e publicada no site da revista Carta Capital. O jornalista aborda a contribuição dada pelo Supremo Tribunal Federal à emancipação dos negros na sociedade brasileira ao declarar a constitucionalidade do modelo de cotas raciais adotado pela UnB. Nas palavras de Pichonelli, “num país de 190 milhões de habitantes, é humanamente impossível vigiar os processos de exclusão manifestados contra grupos minoritários (sempre considerando como ‘minorias’ os grupos que tiveram negados, ao longo da História, o acesso à totalidade dos direitos civis, sociais, políticos). Mas é dever do Estado criar regras para garantir acesso a lugares públicos, como a universidade”. Clique aqui para ler o texto na íntegra.

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Aproveito para agradecer as mais de 2.080 visitas recebidas pelo blog. Agradeço, em especial, à página Livros e Afins por ter feito uma gentil divulgação do Dissencialistas na  última semana.

Até a próxima,
Stanley Marques.

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A morte de Iván Ilitch e outras histórias, de Lev Tolstói

Nas últimas férias li A morte de Iván Ilitch e outras histórias, de Lev Tolstói (1828-1910), publicado pela editora Amarilys. A obra que traz quatro novelas traduzidas por Tatiana Belinky é de leitura obrigatória para nós, passageiros angustiados da sociedade contemporânea.

Elena Vássina, a quem coube a apresentação do livro, afirma que “os personagens das obras tardias de Tolstói ganham a oportunidade de romper radicalmente com tudo o que há de ‘material’ e é imposto ao indivíduo pelas formas externas à sua existência, e de ingressar no mundo da liberdade”. Cita, ainda, Víktor Chklóvski, para o qual a novela A morte de Iván Ilitch “não é sobre o horror da morte, mas sobre o horror da vida”.

Acompanhe abaixo trecho que diz muito da angústia vivida pelo magistrado Iván Ilitch, personagem principal da novela, e que não nos é muito estranha.

Iván Ilitch (ilustração de Hélio de Almeida).

Iván Ilitch (ilustração de Hélio de Almeida).

“– Como vivias antes, bem e agradavelmente? – perguntou a voz. E ele começou a rever na imaginação os melhores momentos da sua vida agradável. Porém, coisa estranha, todos esses melhores momentos da vida agradável pareceram-lhe muito diferentes do que lhe pareciam na época. Todos, afora as primeiras lembranças da infância: Ali na infância, havia algo de verdadeiramente agradável, com o que se poderia viver, se isso voltasse. Mas aquele ente que vivera esse algo agradável já não existia: era como se fosse a recordação de alguma outra pessoa.

Tão logo começava aquilo, cujo resultado era ele, o Iván Ilitch de hoje, todas as pretensas alegrias de então derretiam-se agora diante dos seus olhos e transformavam-se em algo mesquinho e, muitas vezes, repugnante.

E, quanto mais distante da infância, quanto mais próximas do presente, tanto mais mesquinhas e duvidosas eram aquelas alegrias. Isso começava nos estudos de Direito. Ali ainda havia algo de verdadeiramente bom: havia alegria, havia amizade, havia esperança. Mas, nas classes mais adiantadas, já rareavam esses bons momentos: eram as recordações do amor por uma mulher. Depois disso, tudo se misturou, e as coisas foram diminuindo. E, adiante, cada vez menos o que era bom, e, quanto mais adiante, tanto menos.

O casamento… tão por acaso, e a desilusão, e o mau hálito da mulher, e a sensualidade, e o fingimento! E esse serviço morto, e essa preocupação com o dinheiro, e assim um ano, e dois, e dez, e vinte – sempre o mesmo. E, quanto mais adiante, tanto mais morto. Como se constantemente eu estivesse descendo a encosta da montanha, na ilusão de que a estava galgando. E era assim mesmo. Na opinião pública eu estava subindo, na mesma medida em que a vida escapava debaixo de mim… E agora, pronto, morra!

[…]

‘Quem sabe eu não viva como devia?’, vinha-lhe súbito à mente. ‘Mas como assim, não como devia, se eu fiz tudo como era devido?’, dizia-se ele: e, imediatamente, enxotava de si, como algo totalmente impossível, essa única solução de todo o enigma da vida e da morte”.

Você provavelmente se identificará com Iván Ilitch e não conseguirá se desligar dele tão cedo. Méritos de Tolstói.

Senhor e servo, O prisioneiro do Cáucaso e Deus vê a verdade, mas custa revelar – novelas que ainda serão objeto de futuros textos no Dissencialistas – também integram o livro.

Até a próxima,
Stanley Marques.

Texto dedicado a Iracema Vasconcellos, através da qual conheci Lev Tolstói.

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Dissencialistas Indica: filmes

Precisando de algumas sugestões de bons filmes? Longe da pretensão de ser um crítico de cinema, os longas abaixo me chamaram a atenção nos últimos dias.

Doze homens e uma sentença (Angry Men), de Sidney Lumet

A vida dos outros (Das Leben der Anderen), de Florian Henckel von Donnersmarck

A tentação (The Ledge), de Matthew Chapman

Melancolia (Melancholia), de Lars von Trier

Até a próxima,
Stanley Marques.

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“Somos mais peregrinos ou mais turistas?”

O educador e psicólogo Yves de La Taille foi o convidado do Café Filosófico (TV Cultura) do último domingo de novembro. O estudioso abordou questões que atormentam a contemporaneidade, como o sentimento de vergonha, a vida de fragmentos, o conhecimento versus informação, o medo da exclusão, a modernidade líquida, o tédio e o ócio. Assista o programa na íntegra e reflita com o pesquisador especializado em desenvolvimento moral.

Do Tédio ao Respeito de Si: Educação Moral e Formação Ética – No encontro, serão propostas duas análises complementares da contemporaneidade. Primeiro, falaremos de uma ‘cultura do tédio’, de falta de sentido existencial que comprometem a realização ética de uma ‘vida boa’. Em seguida, falaremos de uma ‘cultura da vaidade’, de superficialidade, que comprometem a legitimação moral de deveres. Finalmente, à luz da abordagem psicológica, serão apontadas ações educacionais desejáveis para a construção de uma ‘cultura do sentido’ e uma ‘cultura do respeito de si’.

Outros vídeos do Café Filosófico estão disponíveis no CPFL Cultura.

Gostaria, ainda, de agradecer os mais de 1.100 acessos recebidos pelo blog desde junho, quando foi publicada a primeira postagem (Sangue Latino, com Eduardo Galeano) no Dissencialistas.

Até a próxima,
Stanley Marques.

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